Reportagem da Revista O2, que pode ajudar a entendermos melhor o que acontece conosco durante nossa atividade física.
Temperatura máxima
Entenda como o corpo humano enfrenta o
calor durante a corrida
O corpo humano é uma máquina feita para o movimento. E um dos
maiores inimigos para o bom funcionamento dessa complexa estrutura é o calor.
Nosso organismo tem estratégias para manter sua temperatura próxima dos 37ºC e,
para enfrentar o calor durante o tempo de esforço, os órgãos interagem com a
temperatura externa, a umidade do ar e a velocidade do vento. Nesses acordos,
as razões para tanto esquenta (termogênese) e esfria (termodispersão, sudorese)
andam lado a lado, num processo chamado termorregulação.
É assim que músculos,
sangue e suor trabalham produzindo e liberando calor para tentar manter
sua performance, trocando temperatura com o ambiente através de três processos:
condução (aceleração da corrente sanguínea), irradiação (vasodilatação
periférica) e transpiração (sudorese para provocar resfriamento por evaporação
na pele).
O calor, além de minar todas as forças atléticas e de resistência, é
mais perigoso para o corpo do que o frio: 5ºC acima da normalidade corporal
“cozinham” as proteínas celulares. No limite extremo dessa temperatura, o
cérebro é o órgão mais afetado e acontecem câimbras, náuseas, vômito, suor,
tontura, visão turva e desmaio, até que ocorra uma falência cardíaca. Na outra
ponta do termômetro, o perigo começa ao baixar dos 35ºC. O frio faz o metabolismo
diminuir, mas não é tão fatal quanto o calor, pois é preciso 20ºC no corpo para
acontecer uma parada cardíaca irreversível.
Ar
* Quanto mais alta a
temperatura climática e a umidade do ar, mais rápido o corpo vai processar suas
estratégias de refrigeração e mais rápido haverá queda de rendimento.
Superaquecimento (38ºC) pode gerar fadiga extrema.
* A combinação de horários,
vento e umidade do ar auxiliam no trabalho de redução da temperatura corporal.
Ao amanhecer ou anoitecer, com ventos leves e de 50% a 60% de umidade
atmosférica, são condições ideais para favorecer o corpo humano na corrida.
Sangue
* A pressão arterial
alterada recebe calor da atividade física, causa vasodilatação periférica,
menos oxigenação dos músculos e a temperatura corporal pode chegar próximo do
estado febril (38ºC).
Ocorre a perda de sódio no plasma sanguíneo
(hiponatremia), que prejudica a absorção de glucose, abaixa a pressão, gera
hipoglicemia de esforço e interrompe a atividade.
* O sistema circulatório
superaquecido desvia o sangue para a pele, deixando-a quente e avermelhada.
Essa vasodilatação periférica dissipa o calor excessivo no ambiente para
abaixar a temperatura corporal. O condicionamento de sudorese acompanha o
cardíaco, evoluindo para reduzir o trabalho e a perda de rendimento.
Músculo
* Cerca de 2/3 da energia
para gerar a força mecânica dos músculos é desperdiçada na forma de calor.
Os exercícios elevam e estabilizam a temperatura corporal a um limite
(37,5ºC), somada à temperatura ambiente.
* O intenso trabalho muscular gera 20%
mais de calor corporal e ativa os sistemas de refrigeração do corpo. O calor
irradiado para o sangue é distribuído aos órgãos e dissipado no organismo. Os
próprios músculos auxiliam o bombeamento do coração.
Suor
* Com 50% do peso corporal
em fluidos, é comum perder até 1,8 kg de líquidos em uma hora de corrida.
A perda excessiva de potássio eleva os batimentos cardíacos até a arritmia e
aumenta a vasodilatação. Essa redução prejudica a saúde e a performance, e
pior, ao lutar contra o calor, as glândulas sudoríparas podem desidratar ainda
mais um organismo se não houver reposição.
* O suor é liberado sobre toda a
superfície da pele.
A refrescante perda de calor do corpo se dá pela evaporação
no ambiente, mais eficiente quanto menor for a umidade relativa do ar. A
transpiração de líquidos se inicia a partir dos 37,4ºC e ocorre quando o
calor gerado pelos músculos ultrapassa sua capacidade de dissipação.
Termômetro Humano
42ºC
Não há mais garantias de que a vida possa ser salva.
Ausência de suor indica desidratação grave e estado de coma.
41ºC
Último aviso
de grande perigo. O metabolismo fica seriamente comprometido, a ponto de
alterar as proteínas celulares.
40ºC
Início da hipertermia. Ocorre náusea,
vômito e falta de coordenação pela perda de sais minerais. A interrupção
do suor indica forte desidratação.
38ºC
Estado da febre. Forte sudorese com
presença de espasmos musculares e sensível exaustão. Há queda de
batimentos cardíacos e até desmaio.
36ºC a 37,5ºC
Faixa de temperatura normal
do corpo. Inclui a menor (dormindo) e a maior possibilidade (exercício).
35ºC
Início
da hipotermia. Perda de coordenação motora e racional. Acontecem
calafrios, sensação de cansaço e forte apatia, incluindo recusa ao
socorro.
30ºC
Existe uma redução de um a dois batimentos cardíacos. O corpo
fica em desorientação completa e perde o raciocínio por falta de sangue no
cérebro.
20ºC
O corpo interrompe todas as suas funções por causa da diminuição
do metabolismo, junto à temperatura, até cessar as atividades do coração e do
cérebro.
FONTE: Raul Santo de Oliveira é fisiologista e professor
doutor do Cemaf (Centro de Medicina da Atividade Física do Esporte) da
Universidade Federal de São Paulo – Unifesp.